Madiba

Former President of South Africa, Nelson Mandela, receives an ovation from Labour Party delegates. Copyright Terence Bunch.

Eu sei que possivelmente, ao acordar daqui a algumas horas, a notícia da morte iminente de Nelson Mandela será fato, e não previsão. Não importa a data. Importa que quando o mundo perde Madiba – e com o nome com o qual é chamado carinhosamente pelo povo de seu país (e poucas são as pessoas que merecem tanto carinho, então porque não oferecê-lo quando podemos?), que ele será tratado nesse pequeno texto – o mundo perde, literalmente.

Pequeno e pobre, pois pouco sei sobre sua história. Conheço os fatos que todo mundo conhece: como e porque foi preso, como foram seus dias de cárcere, e como voltou ao mundo em 1990, tornando-se presidente 4 anos depois.  Mas isso também não é importante, dado que sua figura é tão (justamente) celebrada que sua história está escrita e descrita em livros, filmes e especiais de TV às dezenas. Servirá de eterna referência, e certamente tantos outros registros surgirão.

O que importa é que o homem fez em vida. Importa ter sido capaz de após quase 30 anos, sair às ruas e não enxergar diferenças de cor, de credo, de valores. Ter pensado uma nação naquilo que o termo significa em sua forma mais pura e perfeita. Trazido um espírito autêntico de unificação, após a forma mais desumana já estabelecida de “convívio” de um povo – o maldito apartheid. Ter dado a cara a tapa (e levado muitos, por anos e anos), sem perder a pureza de um sorriso inspirador, cativante e emocionante, de quem viveu a vida por um bem maior, e por esse bem não deixou de vivê-la em momento algum, fosse qual fosse o tamanho de seu universo, e estando ele de portas fechadas ou abertas.

Não se ouviu falar mal de Madiba. Os que falaram foram esquecidos, ou ofuscados por seu sorriso em preto e branco, e sua história colorida como linda bandeira sul-africana. Hoje a tal nação aguarda resignada a notícia de sua morte, unida e dolorida. A nação mais desenvolvida do continente mais esquecido. Por tanto tempo, a África do Sul foi sinônimo da imagem desse senhor: uma imagem de esperança, de possibilidade de mudanças. O país precisa de mais. O continente também. O mundo, sempre.

Espero que a gente, nessa ânsia de viver a 200 por hora, seja capaz de em algum momento se inspirar num exemplo desse tamanho. Uma pessoa que foi aprisionada, e viveu 300 anos em 30. Que enxergou dentro de si a resposta daquilo que precisamos do lado de fora. Mais que isso: que soube sorrir, apesar de tanta dor, o sorriso mais sincero: aquele que vai direto pro peito, e faz com que a gente reaja com a emoção que nos negamos, ao apressar nossa própria existência pelos motivos mais estúpidos.

Por isso, mais do que um nome que se tornará (ainda mais) eterno, o exemplo de vida de uma pessoa que é capaz de alcançar os horizontes que Madiba alcançou, inspirando aos quatro cantos com sua história aquilo que um ser humano é capaz de fazer de melhor nessa vida, acho que todos nós – que não conhecemos, ou que conhecemos muito, ou ainda que somente ouvimos falar por aí – devemos prestar atenção ao legado desse homem. Aprendermos com o que ele foi capaz de ensinar, após por tanto tempo precisar aprender sozinho, e evoluindo em silêncio uma mente brilhante e um coração que bateu em tantas cores. No símbolo de um ser tão grandioso, que se vai sem que nos importe qual era sua religião, sua vida particular, e os tantos abusos que sofreu durante sua reclusão, estabelecendo assim a imagem de alguém que mesmo tão maltratado, foi capaz de alçar uma nação inteira rumo a um futuro mais próspero e humano, fica uma triste certeza:

– Um mundo sem Mandela é um mundo pior. Que seja, portanto, eterno Madiba.

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