Quer que eu desenhe…?

Fim de ano, época de apartheid. Depois do ocorrido (e relatado) no texto anterior, algumas pessoas mudaram radicalmente seu modo de agir comigo. Umas próximas, outras nem tanto. Definitivamente ter um determinado ponto de vista e/ou opinião formada neste momento em especial incomoda (e muito) os que “não estão contigo”. Não dou a mínima – diz a sabedoria popular (sim, ela existe) que a gente só deve discutir com quem tem capacidade de argumentação – coisa que notoriamente alguns agora identificados não têm.

Então tomei uma decisão. Duas, na verdade. A primeira é que durante algum bom tempo me expressarei publicamente sobre questões sérias como um verdadeiro idiota abobado. Melhor ainda: não me expressarei coisa nenhuma. Que se danem os que estão sedentos por algum sentimento de vingança, ou mesmo os ufanistas que a partir de agora estarão cegos por uma razão que não existe. Enquanto as pessoas se sentirem no direito de esfregarem verdades pessoais na cara alheia, eu não farei parte do circo. Me deu bem no saco esse clima de torcida organizada. Não entro mais em guerra. Não perco tempo da minha vida discutindo com quem não me conhece (ou pensa que conhece). Mais: está cada vez mais fácil identificar os babacas – e ignorá-los passa a ser um dever, quase uma demonstração de sabedoria.

Porém, isso é muito cômodo. Então, a tal segunda decisão: vou usar aquilo que tenho de melhor pra tentar fazer algum bem pras pessoas – todas elas. Na minha cabeça, a única forma de nossa espécie evoluir de fato se dá numa equação de três coisas: berço, respeito e educação. As duas primeiras infelizmente não estão ao meu alcance, mas posso dar uma força na terceira. Do meu jeito. Mal não vai fazer se eu tentar, não é mesmo?

Pra fechar o texto (e justificar o que eu farei daqui a alguns dias): na minha opinião, existe uma avalanche de auto-engano acontecendo. Uma caça incessante por “culpados” – uma apontação desenfreada de dedos: “pra você que defende o bolsa-miséria”, “pra você que não liga pra falta d’água de dentro do seu condomínio de luxo”, “pra você que acha bonito passear abraçando outro macho”, “pra você, coxinha que pára seu SUV em fila dupla”, “pra você que defende vagabundo”, “pra você que acha que Miami é a solução”, “pra você que vota em corrupto”. As pessoas fazem o que fazem por motivos próprios (que a gente não entende, porque não dá pra sacar quem é esse cara só olhando perfil e status de facebook – a conta é simples). Porém, não há preocupação em dialogar. Não há vontade de refletir, de apontar os problemas e justificá-los se for o caso, e muito menos de mudar de opinião. Está fácil demais culpar o cara que não veste a mesma roupa, não usa as mesmas cores, não acredita nas mesma coisas, que não tem as mesmas necessidades e preocupações – e que por tudo isso, tem outro ponto de vista. Certo? Errado? Isso é outro problema. É na diversidade que a gente evolui. Sim: as unanimidades são burras, pois não contestam.

Então, antes de apontar o dedo e virar o nariz pro seu ex-querido, pense bem o quão justo você está sendo. Contextos sociais envolvem um todo, e não somente a gente – e por mais absurdo que pareça, tem gente por aí que ainda prefere pensar o todo ao umbigo. Vou tentar fazer algo de bom por aqui – esse é meu compromisso, com o todo. Espero que você esteja fazendo algo de bom por aí também, ao invés de continuar alimentando a cultura do ódio.

E uma úlcera, de tabela. Porque intolerância tem efeito colateral.

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