Dois de agosto

Bigode,

Antes de qualquer coisa, deixa eu te dizer: teu time tá uma M-E-R-D-A! É uma grande moleza torcer pra essa bosta né? Ahahahahahahahahah! Sim, com certeza seria nosso primeiro assunto na manhã de hoje: eu, tentando te empurrar esse vexame que vocês tão passando lá no estrangeiro (grandes merdas tricampeão do mundo que não vence há 14 jogos), enquanto você retrucaria com alguma estupidez mal-educada, desmerecendo meu Timão. A gente faria cara de bosta um pro outro após uns 3 minutos de baixaria, e depois que as fúrias esfriassem, a gente desvirtuaria pra algum outro assunto qualquer em que quebrar o pau não fosse necessário.

Será que seria isso mesmo, bicho…? Já se vão 4 anos (sim, quatro-anos) desde esse teu silêncio, que só acaba quando por algum motivo você vem atormentar meus sonhos. Sim, nem neles você me dá folga – e algumas vezes até ali o couro come, e eu acabo acordando meio puto por ter desperdiçado mais um momento que poderia ter sido bom contigo. Tanta coisa aconteceu e mudou nesse tempo, e tanta coisa tem mudado cada vez mais rapidamente por aqui que se fosse te contar tudo por carta, seriam umas várias páginas a serem escritas. Só nesse último ano, eu e a Dé saímos do país por duas vezes, peguei uns clientes nervosos, tô sendo processado por uma idiota, fui tio de novo, e seu time taí, caindo pelas tabelas (você deve estar muito puto com isso que eu sei – chupa), fora os fatores externos absurdos, como o povo partindo pra rua, reivindicando seus direitos e começando a entender que cidadania é uma coisa que a gente não aprende nem na escola, muito menos lendo a Veja (isso, acredite, no Brasil!) – e esse é o resumão grosso, dentre tantas outras coisas que a gente não é capaz de lembrar a essa hora da madrugada.

A última novidade, você já deve ter notado, foi a saída daqui (e a chegada por aí) da tua irmã. Eu nem tinha mais contato com a família – quase toda ela, raras exceções, virou recordação – e somente isso – na minha vida desde a época em que você ainda estava por aqui. Mas imagino que com mais gente aí no andar de cima, você tenha mais ouvidos pra azucrinar, e mais sorrisos pra arrancar com sua palhacice aguda desenfreada.

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Aqui em casa, tudo anda. Nosso canto está se ajeitando aos poucos (nesses últimos dias, resolvi botar a mão na massa e acabar com as últimas caixas que ainda restavam da mudança: temos enfim um escritório bonito, gostoso e receptivo), eu e a cozinha somos cada vez mais amigos, e nesse último mês a Dé e eu enfim compramos um smartphone cada – porque o tempo pede por adaptações, e essa eu nem imagino como você estaria encarando, com cada vez mais coisa dentro de telas cada vez menores. O mundo anda meio louco, pra falar a verdade. Tá difícil acompanhar tanta coisa, os focos se multiplicam e a galera não se aprofunda nem vai até o fim nas coisas que acreditava ontem. É complicado, mas nunca tive a ilusão que seria moleza. Queria saber como você estaria encarando isso tudo.

Por isso bigode, eu espero que você esteja bem. Quatro anos na minha cabeça contam como uma Copa (eu e meu futebol sem fim), e é estranho pensar que um período que normalmente demora a passar tenha se arrastado tanto na saudade que eu sinto de você. A vida é capaz de acelerar aquilo que não importa, ou que é bom demais, mas nos massacrar esticando cada segundo ao máximo quando a gente sente falta de alguém. Tenho aprendido isso nesse tempo todo, de formas muito distintas e diferentes. Notado quem e o quê me faz falta, e onde e pra quem preciso ser todo dia um cara melhor. Dizem que a gente se acostuma com a falta… é verdade, mas dói. Não deixa de doer nunca. Só dói diferente com o tempo.

Acho que dão pro gasto esses novos fios brancos na minha barba – o cabelo eu nem considero há tanto tempo! – e espero não estar te deixando muito nervoso aí no teu canto. Sei que a gente se despediu estando bem, ambos, e é essa mesma paz a que eu desejo nessa tua jornada. Eu continuo aqui, esperando suas novas aparições nos meus sonhos, e com a certeza de que um dia eu te trombo de novo.

Se Deus quiser, com o São Paulo na segundona.

Beijo velho. Te amo muito, mesmo desse jeito torto.

Celo.