4

Eu lembro bem da noite anterior. Da gente se encontrando na casa da sogra, pra em seguida dar uma olhada no salão de festas do condomínio, onde ocorreria a “cerimônia” (sim, entre aspas mesmo… a gente fez um negocinho tão intimista que chamar de cerimônia é quase promover o evento). Aquele teto preto, aquelas poltronas arregaçadas, e a gente saiu de lá fazendo votos de que tudo daria certo no dia seguinte – mas ambos duvidando daquilo que diziam – aparentemente concordávamos implicitamente que nosso casamento tinha tudo pra dar errado. Bom, a “cerimônia” pelo menos.

Mas aconteceu, mesmo assim. E no dia seguinte – há exatos quatro anos do dia de hoje – chovia copiosamente. Eu, mais preocupado que tudo desse certo do que com o que de fato aconteceria, lembro bem de estar uma pilha de nervos. Lembro de agradecer copiosamente ao milagre que a Agnes operou, ao transformar aquele salão tenebroso em algo agradável pra uma manhã cinzenta de sábado; de ficar feliz com os amigos ali tão cedo; do bolo derrapar mas não cair, quando da chegada da minha mãe ao salão; das coisas darem certo, mesmo dando errado; e da pequena subir a escada tão linda e sorridente naquele dia.

Lembro bem de ter beijado a noiva antes de começarem qualquer coisa; de ter sorrido sem medo com as brincadeiras do bispo; de ter tentado à exaustão me controlar pra não chorar durante a cerimônia, e de ter falhado miseravelmente nessa missão, ao ouvir as palavras que a Dé escreveu pra mim; de achar que poderia ter escrito votos melhores e mais marcantes, mas saber que a exaustão daquele momento minara qualquer tipo de criatividade que eu pudesse ter em dias tão conturbados e difíceis; de ter errado a mão da aliança (e ter sabido rir da minha própria presepada); de ter visto as mães e a cunhada chorando; de ter cumprimentado muita gente, mas não lembrar de nada especificamente, pois era gente demais, coração demais, coisa demais e aquilo parecia difícil pra quem estava tão cansado. Lembro bem do cansaço, esse que acompanhou a gente nesse verdadeiro rally que foi conciliar festas (sim, sempre lembrando que foram duas, e não só uma), compra de apartamento, lista de casamento, mudança de endereço, greve bancária e emoções à flor da pele.

Lembro de não ter imaginado como isso tudo seria. Lembro de hoje a gente fazer 4 anos de mesmo teto, mesma cama, mesma pia, mesmo controle remoto, mesmo varal. A gente nunca se esforçou pra fazer dar certo, porque simplesmente deu. Hoje não tem nada programado, mas será especial como sempre. Eu não lembro bem como era a vida sem você do meu lado, e acho que é bem por aí mesmo… a gente deixa pra trás o que dá errado, pra se preocupar dali em diante com o que dá certo.

A gente deu, e oliamo. Felizes e múltiplos 4 anos, pequenininha.