Não, saudade não é bom

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Minha mãe está indo morar em Joinville, sexta agora.

Do susto da notícia repentina à mudança, foram-se aproximadamente 40 dias, e eu confesso: é um tempo muito curto para uma digestão bem-feita de um acontecimento tão diretamente relacionado à minha vida. Sim, minha mãe é a única família que me restou por perto, e agora eu passo a ser o único Masili em São Paulo. Ela vai morar com meu irmão, a cunhada e a sobrinha.

Obviamente, eu não gostei. Não sou hipócrita.

Porque com ela, vai-se a espontaneidade de “tive um dia de merda, vamos tomar uma cerveja mais tarde?“, “comprei uma carne e o almoço está cheiroso, quer vir fazer um prato?“, “quer vir ver o que aconteceu com o meu computador, que ele tá esquisito?“. Minha mãe é de longe a pessoa com quem mais tive afinidade quando ainda éramos quatro. Depois da aborrecência, onde todos queremos distância dos nossos pais, foi ela quem topou em um sábado de manhã sair de casa e comprar ingresso de cambista pra assistir ao Elton John, naquele que foi o primeiro show da vida dela; foi ela que num aniversário que fiz, já meio alta com as cervejas da tarde, topou carregar uma mochila nas costas e encarar Perú e Bolívia naquela que foi a maior aventura das nossas vidas até então (sim, depois do Monte Roraima, creio que essa viagem caiu pro segundo posto até o momento, e essa a velha não aguentaria); e principalmente: ela foi a primeira e única daquela casa a conversar de igual pra igual sem medo de mudar de opinião, pedir desculpas ou dar a mão à palmatória em caso de cagadas. Eu sempre tive mãe, mas posso dizer sem a menor sombra de dúvida: nela sempre esteve minha melhor amiga.

Então sim, eu estou me sentindo bem sozinho e estranho nessa condição de pessoa que fica. A distância de 5,5 km entre nossas casas vai aumentar de uma forma absurda, a ponto de serem raros os abraços (por mais que ela diga que não – eu tenho minhas convicções, e espero estar errado sobre elas, mas enquanto não mudo de opinião são essas as minhas palavras). É uma merda. É uma absoluta merda mole de vaca isso. Algumas pessoas dizem que saudade é bom. Não é. Bom é estar perto de quem a gente ama, poder cismar ter um dia bom, e tê-lo. Eu acho ótimo que minha sobrinha possa aproveitar a avó daqui em diante, mas estou abrindo um pequeno espaço e me dando o direito de ser egoísta por alguns segundos – eu não sei sorrir amarelo, me perdoem.

E com ela, vai também a Pimpolhinha – a cachorrinha que há algumas semanas ilustrou constantemente meu facebook (enquanto a véia estava por lá, pesquisando apartamento). Quem tem ou já teve cachorro sabe o quanto eles se tornam família, e o quanto a gente se apega. Eu já tive dois, mas era criança demais quando tivemos que doá-los. Na época, dividi o sentimento de perda com a empolgação da mudança – de Santo Amaro pro Taboão. Dessa vez não há divisões, e é outra merda, gigantesca.

Eu não vim aqui recomendar nada, muito menos dizer nada além dessas linhas. Aquilo que preciso dizer pra Paquinha já é dito pessoalmente, como sempre foi. Eu torço pra que tudo dê certo, pra que ela encontre mais felicidade ainda na própria vida, e que aprenda a cuidar de si, por si – coisa que ela faz, mas não tão bem assim. De resto, quis deixar umas linhas… talvez de desabafo, porque é muito complicado lidar com uma situação tão determinante e grande na minha própria vida no mais absoluto silêncio. Mas é o que eu devo fazer, e é o que eu tenho de momento.

Ainda tenho três dias com você (espero). Que por favor, a gente aproveite.

No mais, você nunca será visita, véia. Sua casa permanece de portas e braços abertos. Eu duvido que você volte a viver nela, mas as visitas são obrigatórias, necessárias e determinantes pra que os que ficam permaneçam felizes – mesmo que absoluta e profundamente saudosos. E é melhor eu parar de escrever porque tá foda.

Eu amo muito você. Se cuida.