O que aprendi sendo síndico por 2 meses

Dezembro de 2015 e janeiro de 2016 foram meses especiais pra mim. Com a viagem da síndica e minha atual função no conselho, assumi a bucha de ser o responsável pelo prédio, e todos os assuntos que o envolvem. Criei até o tópíco #‎diariodeumsubsindicoemapuros‬ no Facebook, pra lidar da forma mais bem-humorada possível com isso. Hoje, com o retorno da síndica, essa passagem da minha vida passa de situação a história, e deixa algumas lições pelo caminho.

1) A maioria das pessoas é boa

Encontrei gente muito legal por aqui. Gente que nem conhecia, e que se habilitou a ajudar nos problemas do prédio, fosse sugerindo melhorias, fosse saindo no meio da noite pra me ajudar a normalizar um mal funcionamento das bombas d’água. Os porteiros e funcionários, que antes eram tão mal-falados pelo então síndico (que já estava no cargo há 11 anos) foram prestativos de uma forma que não consigo mensurar. Assim como os funcionários da administradora do condomínio, que fizeram sua parte direitinho.

Sim, ninguém é herói sozinho. Eu tenho bons vizinhos, e gente do bem me cercando.

2) Porém, quem sobressai sempre é aquela meia-dúzia de FDP

Obviamente, nem tudo são flores. Tem o bêbado que trabalha na polícia que chega em casa e deixa porta do elevador travada, destrói quadro de avisos, tem o vizinho que acha que você é porteiro e te enche o saco pra fazer coisa que não é tua função, tem a velhinha carente que te liga pra reclamar de qualquer coisa, tem o ex-síndico que acha que dá pra continuar dando jeitinho nas coisas – mesmo numa nova administração, e quando você se recusa a entrar na maracutaia, é tratado como pedaço de merda. Os reclamões SEMPRE sobresaem, justamente por serem reclamões, e fazerem surgir na gente aquilo que temos de pior.

Aquilo que temos de pior pesa. Cansa. Desgasta e envelhece. Se bobear, vira câncer. Tem gente que gosta desse movimento. Eu pago pra não fazer parte dele.

3) A gente é mais capaz do que imagina

Foram apenas 60 dias. O suficiente pra eu aprender como funciona o sistema de bombas d’água do prédio, a fiação do elevador, o sistema de circuito interno, e conhecer quem faz o quê no prédio. O que deixa cada vez mais claro pra mim que, na hora em que a água bate na bunda, nossa cabeça funciona melhor. E funciona, a não ser que fugir seja uma opção – coisa que pra muita gente é.

4) Manter o bom humor é essencial, em qualquer circunstância

Mesmo com tão pouco tempo na linha de frente, deu pra sentir o peso da coisa. Se eu levasse pro pessoal cada pepino que pintou por aqui (e meus amigos, daria pra fazer uma salada pra família inteira) não olhava mais pra cara de ninguém. Mas separando as coisas, dá pra dizer que esse período foi bom. Deu pra tomar algumas liberdades, como liberar uma piscininha pra molecada, fazer um escambo do bem com a escala dos porteiros (para que o cara pudesse encontrar a esposa sem ter o salário descontado), pegar o contato do cara que conserta o elevador (e que em dez minutos de papo saber que o cara também vende peixe fresco, tem um sítio e convidou a gente pra almoçar dia desses), e pesquisar preço de bicicleta pro auxiliar de serviços gerais. Fora botar a vadiagem na linha.

Conclusão:

Eu acho que o prédio é um microcosmo bem representativo do mundo em que a gente vive. Uma experiência extremamente válida, que escancarou um novo universo bem na minha cara. Calçar o sapato alheio SEMPRE te transforma, e a gente cresce, amadurece e entende um pouco mais do ser humano. Foi bom, e eu curti mais do que esperava.

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